BY IVAN XAVIER – BUDGET MANAGEMENT AND PLANNING TOOLS IN ARCHITECTURE
Desde o surgimento da tecnologia CAD (Computer Aided Design) na década de 80, os arquitetos vivem o dilema da apropriação adequada desta ferramenta de trabalho para a elaboração dos projetos de arquitetura. Fazer pensando e pensar fazendo é um dos aspectos mais relevantes no uso da informática e na sua aplicação na arquitetura.
Atrás de uma boa obra de arquitetura existe sempre um bom projeto, um bom orçamento e, portanto uma gestão eficiente. Estes componentes, o orçamento, a gestão, execução de obras e as respectivas ferramentas de planejamento estão longe de serem objeto de trabalhos dos arquitetos, especialmente àqueles recém-formados.
De outro lado a indústria de construção civil introduz muito lentamente as ferramentas de gestão de obras integradas com o projeto e orçamento, e é pouco propensa em inovações onde existem riscos e custos iniciais elevados no processo de informatização. É muito comum que as empresas que detém ou adquiriram algum software de gestão (SAP, In-Construction, Sienge, etc.), subutilizarem ou utilizarem de forma restrita, limitando o acesso há um pequeno grupo seleto e ou privilegiado determinado usuário dentro da estrutura organizacional.
A constante implementação dos sistemas de informática associados ao TIC (Tecnologia de Informação) tem despertado grande interesse no uso desta interface. Hoje os estudantes de arquitetura criam grandes resistências na elaboração de trabalhos quando não utilizam a informática como ferramenta principal no processo de criação, inclusive com criticas àqueles que não o fazem, o que constatamos nas escolas de arquitetura é a debilitação do traço, que de um modo ou de outro inibe a criatividade afetando diretamente a qualidade do projeto.
Os projetos apresentados tradicionalmente no CAD pelos estudantes apresentam invariavelmente perda de qualidade, peso gráfico inadequado, “layers” inadequados, espessuras de penas incorretas, representação gráfica e pranchas fora das normas técnicas (ABNT), bem como estruturação de apresentação sem o conteúdo mínimo e eliminação de cortes, elevações e detalhes executivos necessários ao entendimento do projeto como ferramenta principal de execução de obra. Os projetos apresentados não tem conteúdo para serem definidos como básicos, pré-executivos e/ou executivos.
ORÇAMENTO
A equação Projeto, Orçamento e Construção se viabilizam enquanto arquitetura quando o orçamento demonstra e aponta a melhor relação de custo e beneficio, ou seja, o orçamento é capaz em função do seu escopo de viabilizar a construção ou não de um determinado projeto e ou empreendimento, sem apontar distorção de desvalorização ou valorização do projeto em termos de construção.
A elaboração de um bom orçamento passa pelo pressuposto inicial de que os custos levantados sejam capazes de realizar e contemplar a totalidade do projeto proposto em todas as suas fases e com todos os elementos técnicos envolvidos na construção do seu preço: custo direto, indireto, impostos e lucros operacionais.
Este tem que ser capaz de expressar a possibilidade de construção pelo preço justo, atendendo ao desejo real: que tenha o menor preço (o mais barato) com o menor prazo de produção e a melhor qualidade de execução – realizar mais por menos. Um bom orçamento é a tradução literal de que este seja capaz de revelar todo o conteúdo do projeto e a sua qualificação em termos de custos efetivos (Orçamento Analítico).
O que temos verificado é que o orçamento na forma como é produzido não é capaz de traduzir a totalidade do projeto na obra, sem que tenha que ser revisto, atualizado e na maioria das vezes – aditado.
A elaboração de um orçamento nos moldes atuais leva a desconstrução do projeto (especialmente aqueles realizados no CAD), contradição apontada pelos profissionais que elaboram orçamentos. O projeto na sua apresentação final não é capaz de demonstrar todos os elementos: a sua qualificação, as dimensões e indicações para extração dos quantitativos para levantamento de todos os serviços necessários a execução do referido projeto.
Os profissionais que recebem o projeto no CAD de forma eletrônica (arquivo do tipo.dwg) são obrigados a quebrar os blocos, apagar “layers”, construir linhas, poligonais e demais operações para extração de áreas, perímetros e volumes, dentro da atividade principal do orçamento que é o levantamento de quantitativos. Nos levantamentos de quantitativos extraídos do projeto impresso diretamente no papel as incertezas são maiores, pois a representação gráfica – cotas, medidas, alturas, dimensões e volumetrias, não são apresentadas em sua totalidade e as informações de quantitativos são incompletas e não garantem precisão; se efetuados com a ajuda de uma escala manual o nível de incerteza será ainda maior. O levantamento tradicional extraído de uma prancha de desenho impresso, mesmo ajudado por tabelas auxiliares de levantamentos não garante precisão e confiabilidade desejada. Normalmente o orçamento realizado com esta metodologia é passível de grandes omissões e imprecisões que esta técnica tradicional estabelece.
Um bom orçamento caracteriza-se pela precisão da quantificação de todos os elementos da arquitetura extraídos do projeto, codificados inicialmente pelos serviços (etapas de trabalho), pela definição correta de seus componentes (insumos de materiais, mão de obra e equipamentos) e pela sua especificação – a qualificação de seus insumos, em especial os materiais e as respectivas técnicas de aplicação.
Concluída a fase de quantificação de todos os serviços e a qualificação dos seus insumos (os softwares de orçamentos não garantem o totalidade e variabilidade de insumos existentes no mercado da construção civil), a etapa seguinte é a coleta precisa dos preços de materiais, mão de obra e equipamentos, organizados em planilha e divididos em etapas, que invariavelmente coincidem com as etapas de execução de obra. Com a adição dos custos indiretos, encargos sociais, impostos e o lucro, definem o valor geral de vendas (VGV), para a realização e construção de um determinado projeto / empreendimento.
ORÇAMENTO – 3D
A arte de projetar, de antecipar o futuro, mediante o registro pelo arquiteto das formas e do que se esta imaginando pelo desenho convencional ou tridimensional, permite o entendimento claro pelos clientes e interessados das ideias propostas e em especial os projetos elaborados pelo sistema 3D. Os projetos elaborados neste sistema utilizam os vários aplicativos do software BIM (Building Information Modeling), tais como o Revit, Archicad, ou de geometria vetorial (AutoCAD, Rhinoceros, 3dMax), que possibilitam a construção virtual do projeto.
A realização dos orçamentos com o emprego destes softwares adquire um novo significado. O orçamento em relação à extração do quantitativo inicia-se pela identificação do que foi construído virtualmente, com a respectiva facilidade de levantamento dos materiais envolvidos na construção de um determinado elemento arquitetônico e a respectiva interface dos demais elementos do edifício que fazem parte do projeto virtual, devidamente compatibilizados e integrados com a estrutura e os elementos de infraestrutura hidráulica e elétrica, ar-condicionado, etc.
O trabalho de orçamento com o emprego do BIM se resume agora em levantar os diferentes elementos constitutivos do projeto (blocos), cujos atributos informam suas áreas, perímetros, volumes, sistematizando as informações dos quantitativos, cujo orçamento pode ser finalizado dentro do próprio software e ou exportado para planilhas do tipo Excel.
Estes levantamentos agora garantem precisão, ordenação para a realização do orçamento, que se transformam em sequência real da construção, com reflexos diretos no planejamento e gestão da futura obra. A diferença básica em relação ao modelo convencional de levantamento é que os elementos constitutivos do projeto devem ser previamente elaborados e constituídos, ou seja, o projeto é composto de elementos que é o próprio projeto virtual.
GESTÃO DE OBRAS E AS FERRAMENTAS DE PLANEJAMENTO
Os atributos mais relevantes do uso da informática tridimensional aplicado ao projeto relacionam-se com as inúmeras possibilidades de visualização, a simulação, a virtualidade e a precisão relacionada com o levantamento de elementos (o orçamento) que o modelo permite.
Os profissionais de arquitetura e as empresas, tem que incorporar a pratica voltada à gestão, com ações de planejamento e gerenciamento, com otimização de processos, implantação de programas de qualidade e adoção de alternativas tecnológicas, ou seja, temos que mostrar que conseguimos organizar, planejar e “entregar as obras no prazo” – esta é a nossa principal responsabilidade.
O planejamento que “é o processo de tomada de decisões interdependentes, visando uma situação futura desejada, ou seja, são decisões tomadas no presente, que resultam em implicações futuras”, tem como base fundamental o próprio projeto e o orçamento. A organização que é o elemento principal da ação no sentido de estabelecer a melhor forma de se compor os recursos físicos, humanos e financeiros para se obter o melhor desempenho, utilizando-se da melhor estratégia possível no sentido de alocação dos recursos para se atingir determinado objetivo.
Dentro dos recursos necessários que compõe o planejamento, o projeto e orçamento são elementos fundamentais para a organização do sistema de produção. A produção com base na disponibilidade dos recursos físicos, humanos e financeiros esta condicionada à definição do “deadline” (data limite), para que se cumpra no prazo o projeto associado ao orçamento é a condição essencial para o cumprimento dos objetivos do planejamento.
Dentro desta estrutura o projeto e o orçamento adquire um novo significado, mais que projetar e orçar, construirmos essencialmente no primeiro momento virtualmente, para posteriormente construirmos realmente, com todas as possibilidades e facilidades de escolhermos e estudarmos a aplicação dos materiais, a adoção da melhor solução estrutural, e estudo detalhado da insolação solar, o conforto acústico, o impacto do paisagismo, e as possibilidades de simulação orçamentária e as decisões de substituição de materiais e técnicas que sejam eficientes, mais baratas e que possibilitem a entrega dos produtos no prazo e que não agridam o meio ambiente.
Outra equação importante neste processo é a possibilidade real da diminuição do maior gargalo da construção civil, a falta de compatibilização dos projetos de arquitetura com os demais projetos complementares (instalações prediais), que de modo geral, geram o retrabalho durante o processo de construção. Este retrabalho esta na contra mão do planejamento atual, pois impacta diretamente em maior preço, prazos maiores e qualidade indesejável.
A não convergência inicial do projeto em relação aos projetos complementares (compatibilização de projetos) e o orçamento e as praticas não realizadas de planejamento PSP (Projeto do Sistema de Produção) constituem o grande desafio no ato de Projetar, Ordenar e Programar. Considerando a realização do projeto e orçamento nesta nova plataforma (BIM), devemos adotar as ferramentas de planejamento que atendam a estes princípios, para evitarmos atrasos, retrabalho, diminuir custos, desperdícios e agressão ao meio ambiente.
Considerando a realização do projeto e orçamento no modelo tridimensional (visualização, a simulação e precisão) temos que adotar as ferramentas básicas para a elaboração do planejamento do empreendimento. Este planejamento consiste na elaboração inicial do Projeto do Sistema de Produção ou simplesmente “plano de ataque”.
O PSP, tem como objetivos principais no sistema de produção: Minimizar o desperdício (reduzir produtos defeituosos, fazer materiais e ferramentas fluírem, reduzindo o tempo de ciclo; e fazer mais com menos), entregar o empreendimento e maximizar valor (entregar produtos que permitam ao consumidor melhor atender os seus propósitos, entregar produtos no tempo prometido e reduzir o tempo do ciclo de produção).
O PSP ou plano de ataque, segundo Birrel (1980), estabelece:
- Divisão e sequenciamento da construção do empreendimento em adequadas zonas de TRABALHO;
- A sequencia na qual todas as equipes irão se deslocar através destas zonas (sua trajetória);
- Análise do tipo de trabalho requerido para as equipes de trabalho de acordo com cada empreendimento em cada localidade; e
- A precisão na medida do tempo para o empreendimento específico;
Como recomendação para a elaboração do PSP, temos:
- Dados gerais do empreendimento;
- Valor do orçamento e datas limites (cronograma básico);
- O cronograma físico e financeiro com as suas relações de interdependência;
- Como se dará o transporte horizontal e vertical;
- Como serão as Docas e Acessos;
- Canteiro de obras (layout) e stand de vendas;
- Concessionárias de redes elétricas e hidráulicas;
- Tecnologia e técnicas construtivas a serem utilizadas; e
- A sequencia da execução das obras.
A principal ferramenta é a adoção do calendário com as atribuições das datas limites (deadline) para cada fase denominada de caminhos críticos, dentro do cronograma básico.
O caminho critico na execução de um edifício é traduzido pela execução: canteiro, infraestrutura (escavação, estacas e coroamento), pré-tipo (pavimento térreo), tipo (todos os andares) e o pré-tipo (ático, caixas de água e cobertura). No caso do edifício residencial o caminho critico é o canteiro, a infraestrutura, superestrutura e alvenaria, cobertura e acabamentos. Com a definição das datas limites de cada etapa critica e o prazo limite, planejamos e organizamos o empreendimento elaborando o cronograma físico e financeiro, para cada etapa critica, estabelecendo as relações de interdependência entre os vários serviços que compõe cada etapa, este cronograma pode ser realizado como o auxilio de software de gestão, tais como o Project, o Pert-CPM, o próprio cronograma físico e financeiro no Excel e ou simplesmente desenhando.
Com a definição do PSP (Plano de Ataque), com o cronograma básico e detalhado, devemos elaborar planilha e ou listagem dos elementos necessários à execução dos diversos serviços; tais como materiais e mão de obra requerida e os equipamentos necessários, a qual denominamos de histograma, cuja base é a escala do tempo definida nos cronogramas.
Os histogramas permitem a visualização na escala do tempo das necessidades requerida para a execução de cada serviço dentro de uma determinada etapa de obra, permite ainda planejar, aperfeiçoar e garantir os suprimentos dos materiais, mão de obra e equipamentos necessários à execução dos trabalhos no tempo certo, evitando-se desperdícios, compras desnecessárias e apressadas, diminuindo o tempo de execução de cada atividade.
Podemos dizer que o uso e aplicação do projeto tridimensional e suas ferramentas avançadas de desenho em conjunto com a elaboração de orçamento consubstanciado e com precisão associado ás ferramentas de planejamento de gestão darão uma nova forma que emerge desta interação, onde o arquiteto controla todo este processo, como operador e controlador do futuro empreendimento – o planejamento executivo da obra.
A arquitetura atual já contempla esta nova realidade, a construção virtual, customização e personificação são os desafios que devem ser traduzidos nas novas praticas para tanto é necessário que o arquiteto seja capaz:
- A elaboração do projeto na sua fase inicial (estudo preliminar) deve ser consubstanciada nas fases seguintes com a precisão que os softwares de projetos permite;
- A plataforma BIM (3D) possibilita a construção virtual do projeto, possibilitando a elaboração de orçamento com precisão;
- Com a orçamentação precisa, podemos estabelecer as datas limites (deadline), para cada caminho critico do empreendimento;
- Construir o cronograma básico e definitivo, detalhando cada fase do empreendimento estudando com cuidados as relações de interdependência entre as fases;
- Identificar com clareza os insumos necessários à execução dos trabalhos associando os prazos com utilização de equipamentos e a melhor técnica; e
- Aplicar o sistema de planejamento executivo e controle do empreendimento ao longo de sua execução, reavaliando e reordenando para o alcance definidos na programação inicial (deadline).
Finalmente o futuro da arquitetura, esta cada vez mais associado à construção e fabricação digital que é à base do mundo moderno, cuja criatividade deve ser constante e cada vez mais ampliada – este é o nosso grande desafio.
BIBLIOGRAFIA
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